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Artigo de aluno e professor da Unifesspa foi publicado na revista ouricuri da UNEB

  • Publicado: Sexta, 11 de Setembro de 2015, 14h56
  • Última atualização em Quinta, 04 de Agosto de 2016, 11h59
  • Acessos: 4471

ARTIGO DE ALUNO E PROFESSOR DA UNIFESSPA SOBRE O TRABALHO SEXUAL FEMININO E A ECOLOGIA DESUMANA DOS CASTANHAIS FOI PUBLICADO NA REVISTA OURICURI DA UNEB

O trabalho de conclusão do curso (TCC) do acadêmico de ciências sociais Ramon Cabral, orientado pelo professor da Faculdade de Direito, Heraldo Elias Montarroyos, em 2014, está disponível na revista eletrônica Ouricuri, no volume 5, número 2, de 2015, com 28 páginas, no endereço eletrônico: http://www.revistas.uneb.br/, com o título: “Ecologia desumana dos castanhais: a experiência do extrativismo na cidade de Marabá (estado do Pará, Amazônia, Brasil) entre 1900-1950”, período esse em que a floresta dos castanhais ainda era sagrada e ecologicamente sustentável por força da economia regional.

A Revista Ouricuri é um periódico multidisciplinar do Programa de Pós-Graduação em Ecologia Humana e Gestão Socioambiental (PPGEcoH) e do Núcleo de Estudos em Povos e Comunidades Tradicionais (NECTAS) da Universidade da Bahia – UNEB. Nesse artigo, os autores organizaram um programa de pesquisa mínimo na área da Ecologia Humana que serviu para reconstruir a historiografia disponível sobre a economia do caucho e da castanha em Marabá, resultando numa série de descobertas interessantes a respeito da prostituição feminina no cotidiano do extrativismo local.

No desenvolvimento desse programa de pesquisa, foram articuladas a teoria ecológica com a teoria dos direitos humanos e com a teoria econômica marxista, permitindo aos autores diagnosticar a presença dos danos materiais, morais e existenciais na vida dos castanheiros relacionados com o modo de produção do capitalismo selvagem que foi caracterizado nesse estudo a partir da confrontação dos dados regionais com os modelos modernos de exploração do trabalho em outras regiões do planeta através do taylorismo, fordismo e mais tarde com o advento do toyotismo nos anos 70 que apesar de estar fora do período cronológico do estudo, permitiu ao acadêmico de ciências sociais exercitar a sua capacidade profissional de saber  diferenciar a mais valia absoluta da mais valia relativa no estudo de caso.

O ponto alto da pesquisa é a descoberta de que existiram três tempos ligados ao espaço da ecologia desumana dos castanhais: o tempo do trabalho, o tempo do ócio e o tempo do jacamim. O tempo do trabalho estava ligado ao sacrifício, à doença e até à morte dos trabalhadores na floresta. O tempo do ócio representava o momento de completa liberdade e autonomia do castanheiro nos bordéis e bares da cidade, bebendo cachaça, jogando bilhar, comendo quitutes e paneladas desregradamente na zona do meretrício que ficava nos bairros Cabelo Seco e Canela Fina.

Perceberam os dois autores da pesquisa através da historiografia e dos relatos de pessoas que viveram a experiência do extrativismo da castanha no passado, que alguns patrões adotaram um sistema inteligente e bem adaptado à exploração desumana do trabalhador local.

Os patrões avaliaram que o tempo do ócio, com a figura dominante das prostitutas, era uma grande ameaça ao ritmo da produção da floresta, o que despertou a necessidade de se implantar uma técnica racional eficiente, visando aumentar a mais-valia absoluta, especialmente ampliando a jornada de trabalho sem interrupções como acontecia geralmente com a saída dos trabalhadores, de vez em quando, para o porto de Marabá.

A solução desse problema que afetava a produção dos ouriços da castanha-do-Pará foi obtida com a instituição de um novo tempo híbrido na dinâmica ecológica dos castanhais, realizando a fusão do trabalho com o ócio, de forma que algumas prostitutas eram transportadas ao local de trabalho dos castanhais, fazendo o trabalhador se encaixar inconscientemente na situação análoga à escravidão, que nesse contexto histórico era uma festa empolgante no “Inferno verde”, que passava despercebida como forma de dominação.

Além do mais, a pesquisa diagnosticou a presença de um ambiente constrangedor aos trabalhadores da época que eram chefes de família e estavam retirados na solidão da floresta por força da situação do trabalho, induzidos nesse caso a participarem das batucadas, das bebedeiras e das relações sexuais com as prostitutas; caso contrário, não seriam considerados como “cabra-machos” pelos colegas de trabalho, o que revelou na pesquisa a gravidade dos assédios moral e sexual que circulavam perversamente no interior dos castanhais ao longo desse período histórico, década após década, fazendo parte da cultura tradicional dos castanhais.

Concluiu a pesquisa avaliando que esse tempo ou ritmo de trabalho era o “tempo do jacamim”, fazendo referência alegórica à prática de domesticação da fêmea dessa ave que é nativa da região de Marabá e que, uma vez dominada no quintal do patrão, atraía facilmente a presença do macho que se torna uma presa fácil para o caçador, nessa situação, o que foi observado primeiramente pelo aviador Lysias Rodrigues, nos anos 30, quando tomou conhecimento dessa dura realidade dos castanhais.   

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