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Entrevista: Pesquisador fala sobre ansiedade, depressão e alternativas de tratamento

  • Publicado: Terça, 08 de Outubro de 2019, 16h54
  • Última atualização em Terça, 08 de Outubro de 2019, 17h13
  • Acessos: 6635

IMG 7784A Faculdade de Psicologia da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) promoveu, no último dia 4, em Marabá, palestra sobre os efeitos psicoativos de plantas do gênero Montanoa. A palestra foi ministrada pelo prof. Juan Francisco Rodríguez-Landa, da Universidade Veracruzana do México.

Conhecidas no idioma Nahuatl por Zoapatle ou Cihuapatli (em português: “erva da mulher”), essas plantas são utilizadas na medicina tradicional mexicana para o tratamento de alterações reprodutivas. Segundo o professor Rodríguez-Landa, o estudo espera encontrar alternativas de tratamento da ansiedade por depressão associada a baixos níveis hormonais.

A Assessoria de Comunicação da Unifesspa entrevistou o professor, que falou sobre ansiedade, depressão e possíveis tratamentos. Confira:

A palavra “ansiedade” é usada muitas vezes de forma generalizada para muitas situações não-clínicas. Qual a definição correta e como ela acomete as mulheres?

Quando falamos de ansiedade devemos ter algo bem claro: ela é uma emoção normal que todo indivíduo experimenta. Um indivíduo que não experimenta essa ansiedade como emoção poderá ser um indivíduo que não vai ter um êxito de sobrevivência. Pois, ao estarmos ansiosos, estamos alertas ao que ocorre ao nosso redor e, assim, traçamos estratégias de sobrevivência. Essa é a ansiedade normal. Porém, quando há estímulos que desencadeiam e acabam ultrapassando essa ansiedade normal, passamos para a ansiedade patológica. Essa interfere negativamente nas atividades cotidianas do indivíduo, podendo provocar problemas de concentração, de aprendizado e interação social, por exemplo. Então, ter uma ansiedade normal é benéfica para o organismo e todos estamos de alguma forma expostos a ela. Falamos de um transtorno ou desordem psiquiátrico quando ela ultrapassa esse estado e o indivíduo não tem como adaptar-se. Nesse caso, ele precisa de estratégias, terapêuticas ou farmacológicas, para ajudá-lo.

Há diferença de ansiedade entre homens e mulheres?

Sim. É reportado, a nível mundial, que os transtornos de ansiedade são mais frequentes em mulheres. Isso pode estar relacionado com a concentração de hormônios, principalmente estrógeno e progesterona. Níveis elevados desses hormônios podem causar a diminuição da ansiedade e sintomas tipo-depressão. Por exemplo, mulheres no período da ovulação ou no terceiro trimestre de gestação, período em que os níveis de progesterona estão elevados, se sentem bem. Inversamente, o problema ocorre quando o nível desses hormônios diminui drasticamente, como ocorre, por exemplo, no período pré-menstrual ou no pós-parto. Aí se experimenta os sintomas da ansiedade e depressão. Isso explica um pouco essa diferença de gênero associada à depressão. Uma ansiedade não tratada adequadamente pode chegar, de alguma forma, a quadros de depressão, que também acomete mais mulheres. Curiosamente a situação se inverte quando analisamos o “ponto final” da depressão, quando há ideação suicida: o homem é quem tem taxa de suicídio maior que as mulheres, numa proporção que chega de três casos para um.

pesquisador juan franciscoPor que isso ocorre?

Isso pode-se relacionar com certa proteção do estrógeno e da progesterona que os homens não têm. Também pode estar associado aos níveis maiores de testosterona em homens do que em mulheres, fazendo com que sintomas de depressão e de ansiedade, piorados pela ausência da proteção pela progesterona, se convertam em uma ação violenta e impulsiva, o suicídio. Vale mencionar que os níveis de testosterona são plásticos, isso é, podem mudar em diferentes contextos sociais. Por exemplo, existem estudos demonstrando que atividades associadas a uma determinada forma de masculinidade mais violenta, como participar de torcidas de futebol, elevam a testosterona. Assim, é claro que existem fatores sociais tanto quanto biológicos, e eles interagem de maneiras que ainda não compreendemos direito.

Atualmente, qual o principal desafio da ciência para a produção de melhores medicamentos para tratar a ansiedade? 

Para o caso da ansiedade, um dos desafios que temos é encontrar moléculas que não dessensibilizem os receptores a nível cerebral. O problema principal que temos com os fármacos na atualidade como, por exemplo, as benzodiazepinas (drogas para a ansiedade, como o diazepam/Valium), é que quando se consome de forma contínua há resistência farmacológica ou dependência farmacológica, além de outros efeitos colaterais como sedação e sonolência, por exemplo. O grande desafio é encontrar moléculas que diminuam a ansiedade, mas que não tenham os efeitos colaterais.

E para tratar a depressão? 

No caso da depressão, o desafio maior que temos é também identificar moléculas que possam encurtar a demora para produzir um efeito terapêutico. A maior parte dos antidepressivos que temos na atualidade necessitam de duas, três, e até quatro semanas para que possam ter um efeito terapêutico. É nesse período, em virtude de mudanças que ocorrem a nível cerebral e de plasticidade neuronal, que o paciente deprimido se sente pior. Ele pode suspender o tratamento ou desenvolver outro tipo de eventos que coloquem em perigo sua vida, inclusive o intento suicida.

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