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Cidinha da Silva participou de encerramento de projeto de extensão sobre leitura e escrita da Unifesspa

  • Publicado: Terça, 27 de Agosto de 2019, 14h54
  • Última atualização em Terça, 27 de Agosto de 2019, 14h54
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Literatura 2Os participantes do projeto de extensão “Exercício de leitura e escrita a partir de contos e crônicas de escritoras brasileiras”, da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), receberam a visita da prosadora Cidinha da Silva para um dia de troca de experiências e diálogo sobre suas obras.

O evento é o encerramento da primeira turma do projeto e marca o início de uma segunda, com uma roda de conversa tanto aos integrantes do projeto como a comunidade em geral na Unidade I da Unifesspa em Marabá.

De acordo com a professora Edimara Ferreira, da Faculdade de Educação do Campo (Fecampo), o projeto objetiva trabalhar o exercício da escrita e leitura de contos e crônicas e da aproximação tanto do mundo da literatura como do espaço da universidade aos estudantes do ensino médio das turmas de Técnico em Informática e Mecânica, do Instituto Federal do Pará, Campus Marabá.

“Eles são meninos e meninas de 16 a 18 anos que vêm do ensino médio e chegaram aqui com certo estranhamento. Hoje, eles se sentem pertencente a esse mundo da universidade, circulam por esse espaço como lugar deles, não mais como lugar estranho. E os projetos de extensão, de forma geral, têm essa importância: estreitar laços”, destacou a professora.

A estudante de Informática Maria Eduarda Ferreira, de 16 anos, gostou das atividades de escrita e leitura do projeto e, principalmente, da oportunidade de encontrar pessoalmente com uma escritora e poder dialogar sobre suas obras. “O projeto foi interessante porque viemos de um curso de exatas e nos encontramos nesse mundo de literatura que envolvem questões sociais que nosso curso não tem em seu cotidiano”, disse a estudante.Literatura 1

Para Derick Lopes, também da informática, todo o projeto é interessante por destacar a literatura feminina. “E ter presente aqui uma escritora mulher, negra, brasileira, que tem em sua narrativa o movimento negro, movimento estudantil, e demais aspectos sociais destacados na escrita dela, nos proporciona um mundo fora dos padrões com os quais estamos acostumados”, disse ele.

Mas, não foi só de leitura. A escrita também foi novidade e eles trouxeram suas produções, desenvolvidas ao longo do projeto que iniciou em março e encerra este mês. “Para eles o exercício da escrita é novidade. É interessante pensar que trabalhar a leitura e escrita dá a eles a possibilidade escreverem também”, disse Amanda Mota, professora e coordenadora do projeto.

O convite à escritora foi feito durante a organização do cronograma do projeto. “Cidinha é uma escritora importantíssima para esse lugar de fala da mulher negra. Suas obras enveredam por esse caminho. E desde o início, não só eu como coordenadora, mas as professoras Simone, Amanda e Micheli, pensamos em trazer uma autora de outro lugar e logo pensamos nela porque é escritora de contos e crônicas e eram esses gêneros que iríamos usar com os meninos”, pontuou a professora.

Cidinha assim descreve seu trabalho: “escrevo sobre coisas do cotidiano em que vejo potencialidade de se transformar em crônica, utilizando um ângulo de determinada situação que, talvez, não seja visível para grande parte das pessoas”.

Literatura 4E esmiuçou suas obras, apresentadas uma por uma aos participantes. “Parem de nos matar é um livro que reúne 61 crônicas escritas de 2012 a 2016. Crônicas que tratam do genocídio da população negra no Brasil das formas diversas pelas quais o racismo nos mata e nos torna alvo móveis. É o tipo de livro que se eu quisesse atualizar, poderia fazer diariamente. Foi muito difícil porque peguei várias chacinas, como de Costa Barros, onde foram mortos os 5 meninos com 111 tiros”, relatou a escritora.

À tarde, durante a roda de conversa aberta à comunidade em geral, estudantes da Faculdade de Educação do Campo fizeram apresentações sobre a temática do trabalho da escritora e falaram de suas vivências. “Nós, que somos do campo, somos colocados de lado, somos chamados de 'bicho do mato' só por morar no campo. Mas, estamos aqui para mostrar que somos negras, do mato, do campo, com religiões, somos iguais a todos,”, disse a estudante de Educação do Campo Maria do Socorro Santana.

Provocada pela estudante Bruna Moraes para que fale mais sobre a própria escritora sobre textos biográficos, Cidinha da Silva se diz diluída em seus textos. “A literatura negra feita nos anos 1980, principalmente, é muito biográfica, autorreferente. Eu comecei a publicar em 2006 e é algo que eu particularmente não gosto. Principalmente em se tratando de racismo, discriminação racial, que eram a pauta dos meus textos iniciais. Essa mulher negra que sou com vários pertencimentos está presente, diluída, nas histórias das pessoas, que acho mais interessante que a minha. Para mim o grande desafio é criar mundos e a literatura é um espaço de liberdade criativa total”, falou a escritora.

E foi justamente sobre sua postura frente à estas questões que chamaram atenção da escritora durante o debate. “A pergunta mais interessante foi sobre a coisa de escrever e publicar que me deu espaço para falar sobre escrita profissional e sobre escrita como expressão que qualquer pessoa pode se valer. E isso me ajuda a desenvolver a diferença entre a escrita profissional e como forma de comunicação e expressão do sentimento das pessoas”, disse Cidinha.Literatura 6

No encerramento, Cidinha da Silva, que está em Marabá pela primeira vez, recebeu obras de autores da região e participou de uma sessão de autógrafos em seus livros. “É sempre instigante esse trabalho de circular para divulgar a obra da gente quem é autor independente tem mesmo que fazer isso. Quando temos grupos na universidade que leem a obra, sempre que posso atendo aos convites porque considero muito importante que as pessoas conheçam e reflitam sobre o que a gente faz. A gente acredita na universidade como espaço de pensamento crítico e participar dessas atividades é fortalecer esse pensamento. Em especial, a universidade pública que está sob esse ataque destrutivo que pretende ser letal. Mas estamos vivos e atuando para impedir que isso aconteça”, concluiu a escritora.

Para a professora Edimara Ferreira, a expectativa agora é iniciar a segunda turma do projeto, composta por estudantes e por professores da rede básica de educação “Para a primeira turma, trabalhamos mais o exercício da leitura e escrita. Para a segunda, vamos trazer estratégias de leitura e escrita na sala de aula. Há um mito de que a literatura só é trabalhada no ensino médio e queremos mostrar que qum professor leva um livro do Monteiro Lobato, já está exercitando a literatura, a fabulação. Pensando nesse público de professores, pensamos em quais estratégias pedagógicas, a partir da literatura de mulheres, esses professores poderão reproduzir suas salas de aula?”, disse a coordenadora.

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